Venda de destilados cai em bairros boêmios de Porto Alegre por medo de contaminação por metanol
06/10/2025
(Foto: Reprodução) Caso suspeito de intoxicação por metanol é descartado no RS
Casos recentes de intoxicação por metanol registrados no Brasil têm alterado o comportamento de consumidores e comerciantes em Porto Alegre. No último fim de semana, bares da Cidade Baixa e do 4º Distrito, tradicionais redutos boêmios da capital, registraram queda significativa na venda de bebidas destiladas.
A Cidade Baixa teve movimento intenso no fim de semana. Mas uma mudança chamou atenção: muitos clientes trocaram os destilados por cerveja e chope. O motivo é o medo da contaminação por metanol.
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O jornalista Juan Molina relatou que preferiu consumir cerveja, “justamente pela situação que está o metanol”, disse. O vendedor Zayonn Ramon também mudou de hábito. “Por conta dessas notícias aí sobre o metanol”, afirmou.
“[Tenho] muito medo. Tipo, ontem eu fiz um show e estavam dando o drink e eu não bebi nada, nada”, contou o músico Muhiitz.
🔍 O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal.
O Rio Grande do Sul tem um caso suspeito de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas em investigação. Um homem, de 38 anos, que foi internado mas já recebeu alta hospitalar, consumiu cachaça em Porto Alegre. Ele teve o sangue coletado, e o resultado da análise para metanol ainda não foi divulgado.
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Queda nas vendas e impacto no faturamento
A preocupação não afeta apenas os clientes. Proprietários de bares também sentem os impactos. Em um bar da Cidade Baixa, a venda de bebidas destiladas caiu cerca de 80%, segundo o proprietário.
“Nós não vendemos nem 20%, 25% do que normalmente a gente vende em relação ao destilado. Foi uma queda abrupta”, afirmou Joal Antônio Aramburu da Silva, dono de um bar no bairro.
Ele explica que compra os produtos diretamente de fabricantes homologados. “Não existem essas garrafas na rua. Só existe na fábrica”, garantiu.
No 4º Distrito, na Zona Norte da cidade, a queda nas vendas também preocupa.
“Essa semana, sim, teve uma queda de cerca de 60% em relação às bebidas, drinks, né, destilados, de modo geral”, disse Fernando Unanue, proprietário de um bar na região.
Mesmo com a disponibilização das notas fiscais dos produtos, muitos clientes preferem não arriscar. A troca por bebidas mais baratas também afeta o faturamento.
“Se a gente tinha um drink que custava entre R$ 30 e R$ 40, agora a pessoa toma uma cerveja que custa cerca de metade. Então, o ticket médio caiu bastante”, explicou Fernando.
A atendente Bárbara de Abreu Almeida decidiu continuar consumindo drinks, mas com cautela. “Eu acredito que é uma questão de confiar no ambiente que a gente está frequentando”, disse.
Comitê intersecretarial
O governo do Rio Grande do Sul anunciou na sexta-feira (3) a formação de um comitê intersecretarial para acompanhar de forma rigorosa possíveis ocorrências de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol no estado.
A iniciativa foi determinada pelo governador Eduardo Leite e envolve as secretarias estaduais da Saúde, Segurança Pública e Agricultura.
O grupo contará com a participação de órgãos como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), a Polícia Civil, a Brigada Militar e o Instituto-Geral de Perícias (IGP).
⚠️ O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 225 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado na noite de domingo (5). São 16 casos confirmados e 209 suspeitos. Do total de casos notificados, 15 foram mortes, das quais 13 estão em investigação.
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Reprodução/TV Globo/Fantástico
Infográfico: o impacto do metanol no corpo humano.
Arte/g1
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